Wed Dec 27 19:12:00 UTC 2023

COVID-19: um desafio que continua

Após quase 4 anos do primeiro caso confirmado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a COVID-19 ainda requer atenção e cuidado no nosso dia a dia

As infecções virais do trato respiratório, comuns em todo mundo, representam uma das principais causas de morbimortalidade em humanos, principalmente em crianças, idosos e indivíduos imunocomprometidos.O ecossistema vem sofrendo mudanças drásticas devido à ação humana.
A destruição das florestas e de biomas naturais com intuito de criar espaços para áreas urbanas, terras agrícolas e indústrias vem reduzindo a fauna e flora mundial e contribuindo para a diminuição das barreiras de proteção naturais, causando o desequilíbrio em populações de algumas espécies que podem transmitir doenças conhecidas ou até o surgimento de novas doenças para o ser humano, como o SARS-CoV-2 (COVID-19).

Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China, surgiu o vírus SARS-CoV-2 (COVID-19), que logo se espalhou de forma incontrolada por diversos lugares no mundo. Com isso, vários cientistas se reuniram para tentar descobrir como surgiu esse vírus. Uma das principais teorias aceitas por especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi que a transmissão se utilizou de um animal intermediário, infectando a seguir um ser humano. Essa teoria pressupôs também que esse novo vírus (COVID-19) se propagou em um mercado informal de Wuhan, onde animais selvagens eram guardados e vendidos vivos, geralmente em condições insalubres e

anti-higiênicas, criando condições para que vírus e outros patógenos entrassem em contato com os seres humanos que trabalhavam e frequentavam o mercado.

A transmissão se fazia pela inalação de gotículas de saliva e de secreções respiratórias suspensas no ar quando uma pessoa contaminada tossia ou espirrava, infectando outros seres humanos.

Com o número de casos da pneumonia aumentando rapidamente na China e em vinte e um outros países pelo mundo, a OMS declarou, em 30 de janeiro de 2020, o surto do novo coronavírus como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), que consiste no nível mais alto de alerta da Organização, conforme o seu Regulamento Sanitário Internacional. Posteriormente, já em 11 de fevereiro de 2020, a OMS denominou a doença causada por esse novo vírus como "COVID-19", e em 11 de março, declarou a COVID-19 como uma pandemia. Nesta data, a doença já havia se espalhado por 114 países, alcançando a marca de 118.319 casos e 4.292 óbitos. Devido a rápida propagação dos casos de COVID-19 pelo mundo, a OMS emitiu as orientações a serem seguidas pelas nações a respeito da doença.

No Brasil, a primeira contaminação pelo SARS-CoV-2 foi confirmada em 26 de fevereiro de 2020, enquanto a Europa já registrava centenas de casos de COVID-19. Poucas semanas depois, em 12 de março de 2020, foi registrada a primeira morte, em solo nacional, em decorrência da nova virose.
O Brasil foi um dos países mais atingidos pela pandemia. O número expressivo de casos e mortes da doença assustou a população do país, especialmente durante o auge da doença. O Ministério da Saúde passou a adotar e seguir as orientações da OMS, propondo aos estados e municípios a adoção de medidas de prevenção e distanciamento físico (social) em grande escala e a restrições de movimento, chamado “lockdown”, com o intuito de reduzir a velocidade de transmissão da COVID-19 entre as pessoas. Com a adoção destas medidas, somente os serviços essenciais ficaram abertos.

Para reduzir a propagação desse vírus e acabar com a pandemia, pesquisadores ao redor do mundo trabalharam incansavelmente em busca do desenvolvimento de vacinas eficientes e seguras em tempo recorde para combater a COVID-19. O entendimento da doença foi crucial para o desenvolvimento das vacinas.
Tendo um conhecimento geral do vírus, incluindo os principais órgãos-alvos infectados e a rota de transmissão, foi possível frear a propagação viral e evitar infecções graves e a morte. Com o avanço da vacinação, houve uma queda na média geral de mortes por COVID-19 no país. O número de internações e mortes diminuíram, principalmente no grupo dos idosos.

Em novembro de 2021, a variante Ômicron do vírus SARS-CoV-2 foi detectada na África do Sul e considerada uma preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta variante, por seu alto poder de disseminação, espalhou-se pelo mundo. Em meados de janeiro de 2022 já era a cepa predominante no planeta, tendo provocado um aumento no número de casos.No Brasil, ela interrompeu a tendência de queda no número de casos e mortes causadas pelo SARS-CoV-2.
Desde o início da pandemia, segundo estatísticas do Ministério da Saúde, o Brasil registra 38.078.411 casos confirmados e 707.789 mortes pela infecção COVID-19.
Em 2023, observou-se queda dos registros de novos casos e mortes da doença, o menor patamar desde o início da pandemia. Em 2023, ocorreram 1.351.379 casos nos primeiros 6 meses do ano, contra 10.184.326 no mesmo período de 2022. A redução expressiva registrada em 2023, segundo especialistas, pode ser decorrente de cobertura vacinal, diminuição na rotina de testagem, maior taxa de contaminação e consequentemente imunidade da população.

Entretanto, ainda há uma grande preocupação em relação aos casos de Síndromes Respiratórias Agudas Graves, que continuam impactando mais os extremos das faixas etárias, principalmente em crianças até dois anos.  Em termos de mortalidade, a faixa da população mais impactada é a de idosos a partir de 65 anos.

 


Em maio de 2023, a OMS anunciou uma alteração no status da COVID-19, que deixou de ser classificada como emergência de saúde pública de interesse internacional. Entretanto, os dados demonstram que ainda há casos de COVID-19 e que a doença continua causando a perda de muitas vidas na população brasileira.
Por isso, o Ministério da Saúde segue recomendando a vacinação como a melhor forma de prevenção das formas graves da doença, especialmente para populações mais vulneráveis, como idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos.

Hoje, enfrentamos mais uma nova variante do coronavírus, denominada Arcturus, (XBB.1.16), que surgiu na Índia em janeiro deste ano e já se alastrou por quarenta países, incluindo o Brasil. O primeiro caso brasileiro foi confirmado no dia 1º de maio pela Prefeitura de São Paulo. As características clínicas são semelhantes a outras subvariantes, como febre, tosse, dor de garganta, coriza e um fator novo, a conjuntivite viral.
Até o momento, os pesquisadores não encontraram características que indiquem que a Arcturus seja uma variante de preocupação, assim como a Ômicron, e no passado Alfa, Beta, Delta e Gama. A nova linhagem vem sendo observada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde meados de abril como uma variante de interesse.
Por enquanto, parece estar infectando as pessoas mais suscetíveis, aquelas que não se imunizaram com as doses de reforço. Embora a eficácia das vacinas possa ser reduzida contra a Arcturus, elas continuam sendo uma ferramenta crucial para reduzir a gravidade dos casos e prevenir hospitalizações e óbitos. A vacinação tem sido fundamental nessa jornada.

Apesar de, em maio de 2023, a OMS ter anunciado a alteração no status da COVID-19, deixando de ser classificada como emergência de saúde pública de interesse internacional, os dados demonstram que os casos de COVID-19 ainda surgem e que a doença continua causando a perda de muitas vidas na população brasileira.

Recomenda-se que a população mantenha o calendário vacinal atualizado. Algumas medidas não farmacológicas de prevenção e controle também se mantém de suma importância, como a higienização adequada das mãos com álcool 70% ou água e sabão, ventilação adequada de locais fechados, isolamento dos casos confirmados de COVID-19 e uso de máscaras (se necessário), especialmente em ambientes com maior aglomeração.

O Ministério da Saúde segue monitorando e avaliando permanentemente as evidências científicas mais atuais, assim como o cenário epidemiológico da COVID-19 no Brasil e no mundo, incluindo informações recentes sobre novas subvariantes, para definir ou ajustar as recomendações e ações necessárias no território nacional.

É possível que a pandemia volte a ser uma emergência global caso surja uma nova variante com alto impacto?

Segundo o diretor da OMS, Tedros Adhanom, “É um vírus que veio para ficar. Ainda está matando e ainda está mudando. Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes.” De fato, essa pandemia é possivelmente a mais grave da história recente da humanidade e seu curso pode ser influenciado pelo rigor na adoção de medidas comportamentais individuais e coletivas, no trabalho de parceria internacional e nos cuidados para a sobrevivência mundial.


Por:


Adriana Carvalho
Médica Pneumologista e Generalista da FAPES
Programa Saúde da Família


Tatiana Trezena
Médica Generalista da FAPES
Programa Saúde da Família

Bibliografia:

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Boletim Epidemiológico Especial   - Ministério da Saúde.

https://www.paho.org/pt/COVID19

Secretarias Estaduais de Saúde. Brasil, 2023

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/ministerio-da-saude-monitora-cenario-de-novas-variantes

https://www.paho.org/pt/noticias/23-8-2023-atualizacao-sobre-variante-interesse-eg5-e-variante-sob-vigilancia-ba286

https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2023-08/oms-rastreia-novas-variantes-do-coronavirus.

Fontes: Ministério da Saúde - COVID-19 Casos e Óbitos (saude.gov.br) Coronavírus Brasil (saude.gov.br)

ECDC – Our world in Data

OMS – Organização Mundial da Saúde

Folha informativa sobre COVID-19 - OPAS/OMS | Organização Pan-Americana da Saúde (paho.org)